As dificuldades para a aprendizagem podem estar relacionadas a diversos fatores, inclusive aqueles não neurológicos
Por Ariella Dias - psicopedagoga e terapeuta ABA
Em 2012, foi conquistada a sanção da Lei Berenice Piana (nº12.764/2012) que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Um avanço nas Políticas Públicas Educacionais com as diretrizes para o diagnóstico precoce destinado ao tratamento adequado. Processo básico para a adequada inclusão social no que tange o devido acesso à educação e proteção social, além da inserção no mercado de trabalho.
É lógico que na prática os desafios ainda são muitos, especialmente com a falta de capacitação dos profissionais para lidarem com a questão que envolve a neurodiversidade. E o problema não se resume, pois não podemos deixar de lembrar de outros fatores relacionados como os embaraços familiares, as dificuldades emocionais, o ambiente escolar desafiador e bullying, dentre outros.
É importante reconhecermos que a sociedade contemporânea é marcada por constantes mudanças abruptas, sejam políticas, econômicas, sociais, tecnológicas, ambientais e culturais. E que as nossas competências e habilidades nem sempre são suficientes para lidar com tantas transformações repentinas. O lockdown que levou o planeta ao confinamento social, devido à Covid-19, é um exemplo desse contexto.
É clara a complexidade para identificar o que está por trás da falta de interesse pelos estudos. Pois, nem sempre o que se apresenta nos comportamentos tem uma explicação fidedigna. Para delinear as condições adversas é preciso a aplicação de um programa sistemático, com a coleta de dados em constante reavaliação. A precisão dos procedimentos precisa perseguir a imparcialidade, não deixando-se levar pelos sinais do senso comum.
Como terapeuta ABA, atendendo um menino de oito anos que apresentou características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) como, por exemplo, a dificuldade para se comunicar e socializar. Cheguei muitas vezes a acreditar nessa hipótese e até encaminhar para o atendimento neuropediátrico. Mas, como ele tem um histórico traumático, me recusei a acreditar na primeira explicação rápida.
A família ainda não o levou para realizar os exames neurológicos e ele nunca relatou o que ocorreu no seu passado, durante as sessões terapêuticas e de estudos. Mas, após quase um ano de tratamento, começou a nos surpreender com a exposição dos seus pensamentos de forma lógica e cheia de sentidos. Inclusive, com argumentos fortes para sustentar e defender a conquista dos seus desejos, ou seja, ele não possui nenhuma dificuldade com a comunicação ou para socializar. E, apesar de manter a rejeição aos estudos por meio dos métodos tradicionais, demonstra a compreensão total sobre os conteúdos didáticos.
A perspectiva desse caso exemplifica bem a necessidade do desvio de qualquer atalho nessa jornada, ou seja, não devemos buscar explicações rápidas sem fundamentos científicos. É claro que esse menino ainda deve realizar os exames recomendados, até porquê o indicado é validar o diagnóstico por meio de uma equipe multidisciplinar.
Mas, o que podemos aprender com esse caso é "não associar de imediato a falta de interesse pelos estudos a algum transtornos". Óbvio que esse menino tem exames pendentes e não podem ser ignorados, havendo um caminho longo para percorrer. Contudo, até o momento, o trabalho psicopedagógico tem identificado perspectivas que deixam o transtorno abaixo de outras hipóteses mais relevantes para a análise.
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