Lorna Wing: A mãe cientista que provou o espectro autista

 Se o autismo é considerado um espectro foi graças aos esforços dessa mulher 

Parece até um roteiro de filme a história da psiquiatra inglesa Lorna Wing, a mãe atípica cientista responsável por pesquisas iniciadas no porão de um hospital psiquiátrico em 1972. Ela derrubou a ideia da “mãe-geladeira” e revolucionou o entendimento sobre o autismo. 

Após ter sido encaminhada à psicanálise quando a sua filha Susie foi diagnosticada aos três anos de idade em 1959, Lorna Wing se recusou a acreditar na ideia de que as mães eram culpadas pela condição de seus filhos. A sua percepção foi influenciada pela sua própria experiência direta ao criar a sua filha com autismo, afirmaram os jornalistas John Dovan e Caren Zucker no livro Outra Sintonia: a História do Autismo. 

Lorna Wing investigou todos os registros com qualquer sinal de autismo do hospital em que trabalhava, e visitou todas as famílias totalizando 132. E ao longo das décadas de 1980 e 1990, com o apoio de uma grande comunidade de pais, dedicou-se ao entendimento sobre o autismo. Inclusive, se hoje o autismo é considerado um espectro, ela é uma das principais responsáveis por esse esclarecimento. 

De acordo com os jornalistas John Dovan e Caren Zucker, Lorna revisou seu manual que se chamava Autistic Children (Crianças Autistas) e mudou o nome para The Autistic Espectrum (O Espectro Autista), retirando das mães a culpa pelo autismo de seus filhos. Ou seja, combatendo a ideia de “mãe geladeira” do cientista Leo Kanner. 

Esse pensamento perdeu força com a mobilização das mães atípicas que também tiveram filhos típicos, por meio do seguinte pensamento: “como poderia ser a forma como tratavam os seus filhos a causa do autismo se também criavam filhos típicos?”. Uma questão crucial para a virada de chave nas perspectivas científicas.

O protagonismo de Lorna Wing foi tão excepcional que chegou a influenciar outra mãe atípica em 1998, a socióloga australiana Judy Singer que usou pela primeira vez o termo neurodiversidade em seus estudos com notoriedade científica. Como se vê, um esforço nada convencional que desbravou pensamentos e apontou novos caminhos para os avanços científicos sobre o espectro autista.

Referência bibliográfica: Autismo e Realidade.